Trechos de texto integralmente publicado em A arte de libertar: escritos psicanalíticos de Elizabeth Paulon. Rio de Janeiro: Publit, 2009.
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John Bowlby, por sua formação pessoal e pela relevância atribuída, em sua teoria do apego, à primeira fase do desenvolvimento da vida como determinante da personalidade adulta, e também por seu sistemático interesse pelas relações objetais, pertence à corrente psicanalítica, ampliando e conferindo cientificidade ao corpo teórico da psicanálise valendo-se de conceitos e modelos cognitivistas. A estrutura do apego pode ser descrita como um sistema cibernético regulado segundo a representação de um objetivo, que se ativa em circunstâncias determinadas. A meta que regula o programa é constituída pela proximidade de uma pessoa capaz de oferecer proteção e ajuda, e as circunstâncias que ativam o programa são todas aquelas nas quais se apresenta um sentimento de precariedade ou vulnerabilidade. É relevante lembrar que este modelo teórico foi elaborado a partir de um problema crucial na tradição psicanalítica, o da natureza do vínculo criança-mãe.
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O comportamento de apego é organizado segundo uma estrutura hierárquica que incorpora uma série de estruturas subordinadas que se ativam por uma seqüência flexível; o fato de ser inato não implica que a sua estrutura e as circunstâncias que vão ativá-lo ou desativá-lo não possam ser modificadas pelas influências ambientais. Eventos traumáticos, perdas precoces, separações longas ou repetidas, proteção e cuidados escassos das figuras de apego provocam na criança desconfiança e insegurança crônicas na sua possibilidade e capacidade de se relacionar e receber ajuda e proteção.
A observação direta de crianças levou-nos à definição de quatro modelos fundamentais: apego seguro; apego inseguro-evitante; apego inseguro-ambivalente (resistente), e apego desorganizado (desorientado). Esses modelos representativos das experiências relacionais infantis governam as futuras representações de si e dos outros. Bowlby propõe o conceito de "esquema interpessoal" para indicar uma estrutura cognitiva contendo representações prototípicas do eu, do outro e de suas relações.
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Psicanalista, diretora geral da Escola Brasileira de Psicanálise e Etologia e regente da Clínica Holística da Escola Brasileira de Psicanálise e Etologia.
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